O Projeto de Lei nº 277/2023, de autoria do vereador Fernando Dini (PP), que institui como Patrimônio Cultural Material da cidade de Sorocaba a Capela de Nosso Senhor do Bomfim, construída pelo religioso negro João de Camargo, juntamente com o seu acervo de móveis e objetos históricos, foi aprovado nesta terça-feira (24), em primeira discussão. A origem da capela, localizada na Avenida Barão de Tatuí, nº 1.083, data de 1906, quando, após uma visão, João de Camargo, considerado um santo popular, dedicou-se ao projeto de criar sua igreja e auxiliar as pessoas.
Ao defender a aprovação do projeto, o autor cobrou empenho do Poder Público municipal na manutenção dos seus patrimônios históricos, como a capela João de Camargo, para que sejam mantidos “intactos, vivos e sem riscos”. “Para alcançarmos a integralidade do reconhecimento de um patrimônio cultural como este, precisamos cuidar e zelar”, ressaltou o autor, que apresentou fotos do local, que mostram erosão no terreno e árvores na iminência de cair.
Outros parlamentares também se manifestaram, incluindo Iara Bernardi (PT), que disse que existe a proposta de criação de um parque no local, mas que é preciso investimento e proteção da área. Também criticou o descaso do Saae e da Secretaria de Meio Ambiente que, conforme informou o vereador Dini, estiveram no local, mas não tomaram as devidas providências.
Fernanda Garcia (PSOL) também defendeu o projeto e lembrou a luta de João de Camargo, exemplo de resistência, em suas palavras, assim como o sincretismo religioso que a capela representa. O mesmo fez o líder do Governo, vereador João Donizeti (PSDB), que citou o religioso e a capela como símbolos de resistência do povo negro, se comprometendo a também cobrar ações efetivas para a manutenção e resgate da estrutura da capela, para evitar danos maiores. Em seguida, Rodrigo do Treviso (Republicanos) e Fausto Peres (Podemos) destacaram que o local já é reconhecido como patrimônio pela população sorocabana, mas ainda não oficialmente.
Na justificativa do projeto de lei (com parecer favorável da Comissão de Justiça), Fernando Dini observa que a primeira capelinha foi erguida em torno da cruz de Alfredinho, na altura da esquina da hoje rua João de Camargo com a avenida Barão de Tatuí, em 1906. Logo após, construiu-se um pequeno cômodo para servir de cobertura a um poço. No ano seguinte, em virtude do grande movimento provocado pelos fiéis que acorriam ao local, foi providenciada a construção de uma capela maior, em frente da outra. Esta é a Capela que, acrescida de várias reformas, a partir de 1908, ainda hoje existe e serve de ponto de culto e romaria aos crentes de todas as partes do país.
Nascido em Sarapuí (cidade que antigamente fazia parte de Sorocaba) no dia 5 de julho de 1858, o ex-escravo João de Camargo tornou-se um líder religioso de expressão nacional e até no exterior. Após a abolição, veio para Sorocaba e trabalhou como cozinheiro, militar, trabalhador de lavoura e de olarias. Morreu em Sorocaba em 28 de setembro de 1942.
João de Camargo saiu da cidade por duas vezes e viveu durante cinco anos com Rosário do Espírito Santo, que veio a ser sua esposa. Porém, ambos viveram juntos por apenas cinco anos. Recebeu influências religiosas africanas, através de sua mãe, de sua sinhazinha Ana Teresa de Camargo e do padre João Soares do Amaral, o que fez de sua fé um sincretismo entre várias religiões. Nhô João, como viria a ser chamado por seus devotos, já praticava curas desde 1897. Em 1906, teria tido uma visão do menino Alfredinho, que o curou do vício na bebida, e dedicou-se ao projeto de criar a sua igreja, no então distante bairro das Águas Vermelhas.
Após ser processado por curandeirismo em 1913, Nhô João decidiu, para proteger a nova religião, registrá-la oficialmente como Associação Espírita e Beneficente Capela do Senhor do Bonfim, reconhecida como pessoa jurídica em fevereiro de 1921. Em 1995, a Capela de João de Camargo (Capela Nosso Senhor do Bonfim) foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba.